Achei lindo este conto japonês!!!!
SENHOR PALHA (Conto Japonês)
Era
uma vez, há muitos e muitos anos atrás, é claro, porque as melhores histórias
sempre se passam há muitos e muitos anos, um homem chamado Senhor Palha.
Ele
não tinha casa, nem mulher, nem filhos. para dizer a verdade, só tinha a roupa
do corpo. Pois o Senhor Palha não tinha sorte. Era tão pobre que mal tinha o
que comer e era magrinho como um fiapo de palha.
Por
isso é que as pessoas o chamavam de Senhor Palha.
Todo
dia o Senhor Palha ia ao templo pedir à Deusa da Fortuna para melhorar sua
sorte, e nada acontecia. Até que um dia, ele ouviu uma voz sussurar:
-
A primeira coisa que você tocar quando sair do templo lhe trará grande fortuna.
O
Senhor Palha levou um susto. Esfregou os olhos, olhou em volta, mas viu que
estava bem acordado e o templo estava vazio. Mesmo assim, saiu pensando:
"Eu sonhei ou foi a Deusa da Fortuna que falou comigo?" Na dúvida,
correu para fora do templo, ao encontro da sorte.
Mas
na pressa, o pobre Senhor Palha tropeçou nos degraus e foi rolando aos
trambolhões até o final da escada, onde caiu na terra. Ao se por de pé, ajeitou
as roupas e percebeu que tinha alguma coisa na mão. Era um fiapo de palha.
"Bom",
pensou ele, "um fiapo de palha não vale nada, mas, se a Deusa da Fortuna
quis que eu pegasse, é melhor guardar."
E
lá foi ele, segurando o fiapo de palha.
Pouco
depois apareceu uma libélula zumbindo em volta da cabeça dele. Tentou
espantá-la, mas não adiantou. A libélula zumbia loucamente ao redor da cabeça
dele.
"Muito
bem", pensou ele. "Se não quer ir embora, fique comigo."
Apanhou
a libélula e amarrou o fiapo de palha no rabinho dela. Ficou parecendo uma
pequena pipa, e ele continuou descendo a rua com a libélula no fiapo.
Logo
encontrou uma florista com o filhinho, a caminho do mercado, onde iam vender
flores. Vinham de muito longe. O menino estava cansado, suado, e a poeira lhe
trazia lágrimas aos olhos. Mas quando o menino viu a libélula zumbindo amarrada
no fiapo de palha, seu rostinho se animou.
-
Mãe, me dá uma libélula? - pediu. - Por favor!
"Bom",
pensou o Senhor Palha, "a Deusa da Fortuna me disse que o fiapo de palha
traria sorte. mas esse garotinho está tão cansado, tão suado, que pode ficar
mais feliz com um presentinho". E deu a libélula no fiapo para o garoto.
-
É muita bondade sua - disse a florista. - Não tenho nada para lhe dar em troca
além de uma rosa. Aceita?
O
Senhor Palha agradeceu e continuou seu caminho, levando a rosa.
Andou
mais um pouco e viu um jovem sentado num toco de árvore, segurando a cabeça
entre as mãos. Parecia tão infeliz que o Senhor Palha lhe perguntou o que havia
acontecido.
-
Vou pedir minha namorada em casamento hoje à noite - queixou-se o rapaz. - Mas
sou tão pobre que não tenho nada para dar a ela.
-
Bom, também sou pobre - disse o Senhor Palha. - Não tenho nada de valor, mas se
quiser dar a ela esta rosa, é sua.
O
rosto do rapaz se abriu num sorriso ao ver esplêndida rosa.
-
Fique com essas três laranjas, por favor - disse o jovem. - É só o que posso
dar em troca.
O
Senhor Palha seguiu andando, carregando três suculentas laranjas.
Logo
encontrou um mascate, ofegante. - Estou puxando a carrocinha o dia inteiro e
estou com tanta sede que acho que vou desmaiar. Preciso de um gole de água.
-Acho
que não tem nem um poço por aqui - disse o Senhor Palha.
Mas
se quiser pode chupar estas três laranjas.
O
mascate ficou tão grato que pegou um rolo da mais fina seda que havia na
carroça e deu-o ao Senhor Palha, dizendo:
-
O senhor é muito bondoso. Por favor, aceite esta seda em troca.
E
o Senhor Palha mais uma vez seguiu pela rua, como rolo de seda debaixo do
braço.
Não
deu dez passos e viu passar uma princesa numa carruagem. Tinha um olhar
preocupado, mas sua expressão logo se alegrou ao ver o Senhor Palha.
-
Onde arrumou essa seda? - gritou ela. - É justamente o que estou procurando.
Hoje é aniversário de meu pai e quero dar um quimono real para ele.
-
Bom, já que é aniversário dele, tenho prazer em lhe dar essa seda - disse o
Senhor Palha.
A
princesa mal podia acreditar em tamanha sorte.
-
O senhor é muito generoso - disse sorrindo. - Por favor, aceite esta
jóia
em troca.
A
carruagem se afastou, deixando o Senhor Palha segurando a jóia de inestimável
valor refulgindo à luz do sol.
"Muito
bem", pesou ele, "comecei com um fiapo de palha que não valia nada e
agora tenho uma jóia. Acho que está bom."
Levou
a jóia ao mercado, vendeu-a e, com o dinheiro, comprou uma plantação de arroz.
Trabalhou muito, arou, semeou, colheu, e a cada ano a plantação produzia mais
arroz. Em pouco tempo, o Senhor Palha ficou rico.
Mas
a riqueza não o modificou. Sempre ofereceu arroz aos que tinham fome e
ajudava a todos que o procuravam. Diziam que sua sorte tinha começado com um
fiapo de palha, mas quem sabe foi com a generosidade?
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